sábado, maio 01, 2010

Imagens da noite de abertura do Concílio
























Começa o 117º Concílio da Diocese Meridional


Iniciou nesta sexta-feira, 30, o 117º Concílio da Diocese Meridional da IEAB, na Paróquia de Todos os Santos, em Novo Hamburgo.



Carta Pastoral do Bispo Diocesano


CARTA PASTORAL AO POVO DE DEUS

NA DIOCESE MERIDIONAL NO ANO DE 2010, A.D.

Que a graça, o amor e a paz de Deus e do Senhor Jesus Cristo estejam convosco!

Queridos irmãos e irmãs! Há alguns anos atrás as reações críticas feitas ao filme de Mel Gibson “A Paixão de Cristo” concentraram-se, em geral na referência ao “excesso de sangue” ou ao “banho de sangue” perante uma narrativa que parece procurar somente o lado sangrento da paixão de Jesus de Nazaré. Um filme sempre é um filme, isto é, uma representação, que depende do olhar do Diretor, da sua sensibilidade, da sua capacidade de apreender o espírito do fato ou da história que narra e também do olhar do espectador, que vê e o aprende conforme a sua informação e capacidade de leitura. Esta paixão é somente mais uma versão da “verdadeira” paixão de Jesus, que aconteceu uma só vez. Um sacrifício perfeito, completo e suficiente pelo pecado de todo o mundo, conforme no diz a sagrada liturgia. Mas que continuamente se refaz na morte, violência e feridas de inocentes, pela explosão da violência que vai por este mundo que, todos os dias, os noticiários nos mostram. Na verdade, o nosso mundo está sob uma “paixão” global que nos desafia a uma vigilância superior e a uma relação pessoal com a fé.

A Paixão de Jesus, que o Evangelho nos apresenta, mostra, sobretudo, a resposta do Deus feito homem à violência dos seres humanos: vulnerabilidade e perdão. Naquela extrema fraqueza e humilhação humanas vai chegar ao Calvário, em conseqüência das violências das pessoas suas irmãs. E do alto da cruz, na sua dor e solidão, o Senhor proclama: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem”. A dor expressa em amor e perdão, oferta preciosa aos seres humanos confusos e arrogantes nos seu orgulho e auto-suficiência.

Embora centrados na figura do Cristo sofredor, não podemos deixar de ver na crueldade do espetáculo a possibilidade humana de gerar a violência. Como bem disse o nosso Arcebispo de Cantuária, Rowan Williams: “olhar a cruz de longe é aprender que dor e violência é algo que somos capazes de fazer”. Assim, no Calvário, na brutalidade dos algozes e na abundância de sangue podemos ver-nos participantes da lógica da violência, na multidão cruel e ululante, gritando: “Crucifica-o”. E isso nos faz perceber que a violência não é só problema dos outros, tanto na sua realização como nas suas conseqüências. A violência em si nada resolve, pois estigmatiza os problemas distorcendo a realidade complexa e uniformiza as atitudes de resposta sem nexo e medida. É o que se vai compreendendo da escalada do desconcerto por todo o nosso mundo. As conseqüências são o recrudescimento do terrorismo e das matanças indiscriminadas, particularmente de inocentes.

Mas a paixão de Cristo só ganha sentido na medida em que é olhada à luz da sua Ressurreição. O dom da ressurreição é a energia vivificante da nova criação de Deus, o poder transformador que nos preenche de energia vivificadora de Cristo. Por isso a missão da Igreja tem de ser uma missão de Páscoa, de esperança. Isto é, perante a violência da paixão de Cristo, que o mundo encarna na violência em que estamos vivendo, a Igreja tem de ser fiel ao evangelho, anunciando o amor vitorioso e transformador de Deus em Cristo ressuscitado. E isto nos enche de esperança.

Por isso nesse Concilio, somos chamados a fortalecer a Igreja para realizar a missão de Deus no mundo. Chamados a acolher no serviço e a semear na esperança. A refletir sobre nossa responsabilidade pela missão e crescimento da Igreja e sua presença transformadora na realidade em que vivemos. A nossa responsabilidade cristã é a capacidade e o dever que temos de assumir o cuidado com o mundo e com as variadas formas de vida como resposta a Deus, que nos confia seus dons e bens.

A centralidade da missão para a existência da Igreja e sua ação no mundo nunca podem deixar ser enfatizadas demais. De todas as tradições da Igreja Cristã vem a mensagem clara de que a Igreja é missionária em sua essência. Ela existe para dar testemunho das boas novas do Reino. Ela é parte da própria natureza da Igreja.

Por isso desejamos que este Concílio seja um momento de renovação do Povo de Deus no compromisso com o Senhor e o seu Reino e possa ajudá-los a viver no poder do Espírito Santo em sua vida, testemunho e ação cristã; possibilite animá-los a renovar a adoração em nossas paróquias e renovar o Corpo de Cristo em nossas comunidades, de modo que sua adoração e ministério sejam expressão da evangelização e da missão.

Nossas paróquias devem os verdadeiros centros da missão. O nosso papel nestes dias é o de encorajar e facilitar a iniciativa missionária local. A igreja local não “está na base”, ela é a “base”, e precisa ser entendida como tal. Como um passo necessário em direção à renovação da missão.

A evangelização é parte da vida diocesana e paroquial. E parte do testemunho total da Igreja – sua missão. A dimensão missionária é parte essencial da vida da Igreja, é sua razão de ser.

Nesta ação o clero é chave para equipar as suas paróquias para a evangelização. Em muitos momentos se nota um desânimo diante da realidade. Por isso novos modelos de liderança e de ministério precisam ser buscados para iniciar uma mudança para uma ênfase missionária dinâmica que vá além do cuidado e da educação para a proclamação e serviço. Há uma necessidade de que as lideranças paroquiais e diocesanas trabalhem na renovação de nossas comunidades na direção da missão. A época do “ministério profissional” acabou. Chegou a hora do “ministro missionário”. Clero e laicato, juntos devem refletir e buscar maneiras mais efetivas de nos liberar da escravidão de modelos inapropriados de missão e ministérios. De buscarmos uma nova visão de nossos ministérios e da nossa missão no contexto local.

A Evangelização efetiva somente poderá acontecer na medida em que a Igreja é renovada e reconstruída a partir de nossas paróquias, como uma comunidade em invés de uma “instituição”. A Igreja perde o seu interesse pela missão quando ela negligencia o tema do Reino de Deus em sua vida e em seu ensino. A redescoberta do Reino de Deus como Boas Novas que anunciamos é a chave para a renovação da missão e assim, também para a evangelização. Que contempla a nossa mensagem também da salvação pessoal, serviço de compaixão e transformação social da totalidade da missão, como o próprio Cristo fez.

A desorientação, angústia, dor e morte trazidos pela violência na qual todos nós somos envolvidos nestes últimos tempos em todas as nossas regiões, não é somente uma ameaça à construção de uma nova sociedade. Também é um desafio à Igreja como anunciadora do Deus da paz. É fundamentalmente um assunto missionário. Questiona a nossa mensagem de “Boas Novas”, a não ser que encontremos modos de proclamar o Reino de Deus de modo que, por meio do nosso compromisso com a paz e a justiça, as pessoas possam ter a experiência das Boas Novas de modo concreto em suas vidas.

Quando realmente vivemos, promovemos e proclamamos a paz, a justiça e a reconciliação, seremos testemunhas do Cristo Ressuscitado. Estaremos anunciando o Cristo Ressurreto, como razão da nossa fé e da nossa esperança. E os nossos próprios atos se transformarão na ação mesma da Ressurreição. O mundo está faminto de ver e sentir o Cristo Ressuscitado. Assim como o Pai enviou Jesus ao mundo, assim Jesus nos envia a nós, pelo poder do Espírito Santo.

Queridos irmãos e irmãs, nesta reunião conciliar estamos sendo chamados a acolher no serviço e semear na esperança. E isto significa que somos chamados a desencadear em nossas comunidades uma expansão da nossa presença missionária, em fidelidade ao chamado apostólico para uma missão voltada para onde a nossa sociedade vive a violência, a injustiça, o medo, a exclusão e a dor. Fazer missão não significa fazer “prosélitos”. O proselitismo é apenas uma forma de fazer as pessoas sentarem nos bancos das igrejas. Muitas vivem “trancadas” dentro de seus templos como um seleto “clube”. Cristo nos envia a palmilharmos os caminhos de nosso mundo como um sinal de sua presença redentora. Cristo nos chama para mudarmos a vida, pois o Reino de Deus está chegando. Nossa missão é um consagrar-se à vontade de Deus.

Jesus Cristo, encarnação plena de Deus em nosso mundo, é o princípio e o fim de nossa ação na sociedade, princípio e modelo da missão ( Jo 20.21-22). É em nome do Filho Ressurreto e na força do Espírito Santo que somos enviados ( Jo 17.16-22). Foi necessário que o próprio Deus se fizesse “carne”, “gente” como nós, e assim viver uma vida de perfeito serviço e entrega. O nosso papel como igreja evangelizadora é ser uma Igreja servidora. Chamados a acolher no serviço. Ir ao encontro das pessoas nos diversos níveis, lugares e circunstâncias. O servir é a própria identidade da Igreja. Ele não é um apêndice do Evangelho de Cristo, mas o coração do mesmo. Se a missão é entendida como serviço aos outros e não uma conquista e dominação, deve acolher o diferente com admiração e respeito, pois nele o Deus de Jesus se faz presente.

Acolher no serviço e semear na esperança!

Irmãos e Irmãs: O Senhor Ressuscitou!. Saiamos do fechamento de nossos desertos de solidão, medo e acomodação. Que as nossas vidas e as de nossas comunidades se convertam em sinais de alegria e esperança, vivida no serviço. Que tenhamos a coragem e a ousadia de anunciar a Cristo ressuscitado, que é razão de nossa fé e de nossa esperança e impulsionador do nosso serviço.

Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

Novo Hamburgo, Maio de 2010. AD.

+ D. Orlando Santos de Oliveira – Bispo Diocesano